Que toda mulher passa por diferentes fases ao longo do mês, em decorrência do ciclo menstrual, não é novidade para ninguém. Mas será que essas oscilações podem também influenciar no rendimento esportivo?

“Sim!” Essa é a resposta da médica ginecologista obstetra Carla César, docente da Faculdade de Ciências Médicas e Biológicas da PUC SP e membro da comissão científica da SOGESP (Associação de Ginecologia e Obstetrícia do Estado de São Paulo). “A oscilação dos níveis de hormônio decorrente do ciclo reprodutivo pode influenciar a realização de exercícios e o desempenho das atletas. Dependendo da fase menstrual em que se encontram (veja abaixo), as mulheres podem ter melhor desempenho e até melhores resultados em seus treinamentos ou em competições . Estas alterações ocorrem tanto na mulher que treina como hobby, como nas atletas de alta performance”, revela.

Para o educador físico Alexandre Alves, especialista em treinamento para mulheres e proprietário da Fitmommy, conhecer essas diferenças é fundamental. “A mulher pode e deve usar essas variações hormonais para ajudá-la. O profissional que a orienta também deve entender desses períodos para melhor planificar seus treinos. Por exemplo, não adianta fazer um treino de muita força numa fase de baixa hormonal’, exemplifica.

Vários estudos científicos tentaram provar essa diferença da força muscular e flexibilidade, dependendo da época do ciclo menstrual em que as mulheres se encontravam. Estes trabalhos comparavam o índice de flexibilidade, por meio de um aparelho chamado Flexitest, em diferentes épocas do ciclo. “E embora tenham demonstrado uma maior flexibilidade após a ovulação, este aumento foi muito discreto (5%) e não foi estatisticamente significante”, afirma a doutora Carla. Ela explica que o viés desses trabalhos é que as alterações das capacidades físicas apresentadas durante as diferentes fases dos exercícios estão sujeitas a uma considerável variação individual. “Algumas mulheres não apresentam nenhuma alteração perceptível na sua capacidade de desempenho, em qualquer período do seu ciclo menstrual, enquanto outras exibem desempenhos variáveis ao longo do ciclo, sendo difícil determinar se é apenas o ciclo que está interferindo na sua performance”, pondera a médica.

Impedindo a ciclicidade

O melhor desempenho físico da mulher seria logo após a menstruação e a ovulação, de tal forma que, se houvesse escolha, estas seriam as melhores épocas para uma mulher competir. “Mas não existe a possibilidade de se alterar o período menstrual. A melhor solução para as atletas, ou mesmo para as mulheres que treinam por hobby, é suprimir a menstruação, fazendo uso contínuo de anticoncepcional oral, o que impede a sua ciclicidade. Se, por um lado, a mulher perde as vantagens do período pós-ovulação e menstrual, não se arrisca a ter um pior desempenho nos outros períodos, ou ainda sofrer todos os sintomas da tensão pré-menstrual em plena época de competições”, aconselha a ginecologista.

Confira os ciclos menstruais e o reflexo de cada um no desempenho esportivo:

  1. A) Fase 1 – Folicular

Tem a predominância do hormônio estrógeno, começa no primeiro dia da menstruação e dura em média 11 dias. No período do fluxo menstrual, a mulher se sente mais cansada, sem ânimo e pode sofrer com as cólicas; já na fase pós- menstrual, há um forte aumento da capacidade de resistência e na velocidade, e o desempenho físico tende a uma evolução rápida e progressiva. Isto se deve à elevação do estrógeno e maior liberação de noradrenalina. Estudos do Laboratório de Metabolismo e Fisiologia do Esforço da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) sugerem esta época para participar de competições ou programar fases mais intensas do treino.

  1. B) Fase 2 — Ovulatória

Este período tem início quando ocorre a ovulação, aproximadamente a partir do 12º dia do ciclo e vai até o 22º dia. Nos primeiros dias, há aumento da progesterona e baixa do estrógeno, diminuindo a capacidade de coordenação e força; no entanto, do 16° dia em diante, o quadro se inverte e há um pico de progesterona, com aumento considerável na força, na velocidade e na resistência, é quando as atletas podem estar no seu melhor estado de rendimento.

  1. C) Fase 3 – Luteínica

Esta fase é o tão temido período pré-menstrual, no qual ocorre a TPM.  Aqui há significativa redução do desempenho e aumento da fadiga muscular. Os sintomas de dor nas mamas, irritabilidade, dor de cabeça, retenção líquida, e prisão de ventre  podem diminuir a disposição para treinar,  mas os exercícios aumentam a quantidade de serotonina e endorfinas, inibindo a dor e levando a uma sensação de bem-estar. Dessa forma, os exercícios devem ser estimulados nesta fase, mesmo que o seu desempenho e rendimento não sejam os melhores.

Treinar sempre

E uma coisa é certa. Independentemente do período, fazer atividade física é fundamental! “É importante que a mulher mantenha o treino mesmo nas piores fases, devido aos benefícios que o exercício trará com a liberação de serotonina e endorfina”, conclui Carla.

E Alexandre completa: “Há um estudo da Universidade de Stanford que comprovou a melhor recuperação das dores e do cansaço da fase menstrual com exercícios leves”.

Por isso, nada de ter a menstruação ou qualquer desconforto da TPM como desculpa para não treinar. Conhecendo o seu corpo e entendendo cada fase do ciclo menstrual, conforme explicamos acima, você e o profissional responsável pelo seu treino podem adaptar sua rotina de exercícios ao seu ciclo, garantindo melhores desempenhos e resultados.

Fonte: renataspallicci.com.br/boa-forma/mulher-de-fases-como-o-ciclo-hormonal-influencia-no-desempenho-esportivo/ 

Compartilhe